sou pobre mas limpinha......

Sabe qual a última de se viver em Barcelona?
Hoje tive uma reunião com meu coordenador de curso. Um homem de uns 40 anos no máximo, espanhol catalão e coordenador de um curso de design, detalhe, formado em Engenharia Civil.

A reunião ia muito bem, pedi para trocar de matéria no próximo cuatrimestre, não quero fazer Historia I, mas quero continuar seguindo com Historia II e gostaria de acrescentar Tecnologia: “vale, vale, no hay problema.” De repente, já nem me lembro porque, começamos a conversar sobre design, mestrado e doutorado. Disse que minha tese de investigação de final de curso poderia me valer como ingresso em um doutorado na Espanha.

Eu, obviamente, contente, porque nestes últimos meses não faço mais nada que buscar emprego e estudar, sempre recebendo um: “Lo siento, no tienes permiso de trabajo.” Já estava ficando completamente cheia de ser estrangeira e até cheguei a sonhar com bife a milanesa feito pela minha mãe, com minha cama no Brasil e as cores do verão. E por um breve, mas muito breve momento, na reunião com meu coordenador, estava me sentindo um pouco mais valorizada por estar do outro lado do continente investindo em minha careira.

Definidamente, alegria de pobre que gasta em euro dura menos que em real e com conhecimento de causa sabia que o homem espanhol catalão, de uns 40 anos e engenheiro acabariam com meu dia! Começou a me explicar o porquê de eu ainda não ter conseguido arrumar emprego em design, é que eu não escrevia nada em castellano e que deveria falar e se vender corretamente para o mercado europeu, ou seja, eu era informal demais e aqui as pessoas são formais, até abriu meu anteprojeto de tese, meus e-mails enviados a ele e sem nenhuma formalidade, começou a exemplificar todos os erros que eu tinha cometido. Nossa, o homem me desestruturou completamente, me desconcertou. Falou-me com a sabedoria de um país que tem o quádruplo de idade que o meu, me falou com a voz de todos os habitantes da Espanha que odeiam todos os estrangeiros, foi completamente preconceituoso e arrogante, e no final, como se estivesse me fazendo uma gentileza me disse: “Si quieres puedo corregirlo para usted”. Como se fosse culpa minha não saber falar espanhol e que ele, como uma boa pessoa, iria me ensinar.

Sabe o que? O bom é ser brasileiro, escrever em português, ser pobre, mas limpinha, comer feijoada, sambar até amanhecer, ir a praia depois do trabalho, ser informal e poder gastar tudo em real que pelo menos dura três vezes mais.