De que país eu venho? Um país considerado terceiro mundo antes da globalização e do fim da guerra fria, um país dolarizado com um alto índice de pobreza, violência e corrupção. Um país que lutou por sua democracia, que questionou os atos impostos por seus governantes, que sofreu calado, que tem uma diversidade incrível de línguas e diferenças sócias.
Um país de povo sofrido.
Em que país eu vivo? Um país de grandes universidades, cultura, educação e saúde para todos. Um país de primeiro mundo, da união européia, euros e Gaudi, Picasso e Dali. Um país sem diferencias sócias e de acesso fácil à cultura. Porém este país de sonhos é também um país onde seus jovens não criticam e nem questionam.
Algo curioso se passou hoje na minha aula de Design Editorial. Questionei o suposto método de ensino do meu professor argentino, famoso e consagrado no meio do design espanhol, onde suas aulas não beiram o senso do ridículo. Parênteses: sei que para alguns de vocês pode parecer mentira mais acreditem, me comportei muito bem, obrigada. A questão é: Como a turma se posicionou? Na verdade, levamos quase dois meses de aulas com esse indivíduo, todos boquiabertos com a tamanha estupidez e ninguém sequer a fazer nenhuma pergunta ou comentário. Ou seja, a turma se posiciona da mesma maneira ridícula que seu mestre, aleatórios a realidade e envolvidos no mundinho de fofocas e de qual é o melhor lugar para se fazer uma grande noitada.
O paradigma deste país é que eu já presenciei senhores a protestarem por não terem uma casa própria; panelada na rua para se tirar as prostitutas de bairros familiares; cartazes e passeatas em critica ao governo e transportes, porém o que se vê na minha universidade sao jovens apáticos que olham uma brasileira, no qual devem considerar louca e puta, questionar e querem entender que tipo de design editorial de corte e colagem este professor esta tentando ensinar. Como estes jovens estarão preparados para serem designers se não há o mínimo de interesse em questionar sobre o método de ensino banal de um professor? Será que não sentem a curiosidade de saber o porquê de aprendermos as “diversas” formas de se cortar uma revista a mão?
Creio que a apatia e a falta de curiosidade não têm nada haver com o tamanho da pobreza, riqueza, raça ou nível cultural, e sim com a necessidade que o mundo te impõe. Por ser brasileira, fudida, estrangeira, considerada mulher fácil e ter um país que esta longe de fazer parte da União Européia, me faz questionar, entender e aprender.
Não ganho em euros, mas minha curiosidade vale mais do que três para um.